A única questão é o que fazemos do tempo que temos neste planeta. Dinheiro é uma tentação, de modo que boa parte do nosso tempo passamos tentando ganhar dinheiro. Uma parte do tempo em que não estamos tentando ganhar dinheiro, estamos pensando em como ganhar e fantasiando sobre como seria se ganhássemos.
Mas cada pessoa tem assim um centro de gravidade, uma “região” de consciência onde mora, digamos assim. Cada um orbita por essa região e muito pouco por outras. Essa região tem sua própria qualidade de vida, alegria, paz, medo, inteligência, etc. Posso ter um sonho de ter uma moto espetaculosa, fico anos tentando adquiri-la. Quando consigo sinto uma felicidade, mas é certo que uma semana depois já me acostumei e continuo no mesmo nível de consciência, desfrutando da mesma felicidade de antes. Vale o mesmo se eu ganhar 10 milhões na mega sena. Piorando a situação drasticamente já não sei. Digamos que eu sofra um acidente e fique tetraplégico. É, neste caso não sei. Talvez uma depressão possa me jogar mais pra baixo de forma definitiva. Mas para as amenidades de que a vida é feita normalmente, não faz muita diferença. Isso talvez varie também para tipos de temperamento. Eu sou predominantemente introvertido, de modo que o que acontece fora de mim não altera tanto minha disposição quanto a de uma pessoa predominantemente extrovertida, que é mais suscetível ao que está fora, no ambiente. Mesmo assim, essa pessoa também vive em um centro de gravidade que não varia muito.
Algumas experiências podem nos dar acesso a outros centros, mudanças de consciência. Na psicologia chamam isso de experiências de pico. Sujeito vive outro nível de consciência, as vezes algo totalmente pleno, como nas experiências místicas e de conversão religiosa. Depois volta ao centro de gravidade normal. Talvez volte um pouco diferente. Isso pode gerar transformação, que é mudança definitiva no centro de gravidade. Uma forma interessante de ter acesso a outros níveis de consciência é o uso de algumas drogas alucinógenas, como LSD. Esta droga pode proporcionar viagens a outros reinos interiores. Curioso porque isso é proibido. Já cigarro e álcool não proporcionam isso, apenas anestesiam uma inquietude do espírito.
Então a qualidade de vida em última instância é função principalmente do nível de consciência. Sendo pura ilusão o que aprendemos a procurar nesta vida, o que aprendemos a fazer do nosso tempo. Outra coisa interessante sobre isso é que nossa cultura não nos proíbe a mudança de consciência de forma explícita, mas nos distrai com tantas coisas que pouco tempo sobra para descobrirmos outros mundos em nós mesmos. Aprendemos a fazer do tempo um problema. Quase ninguém consegue ficar sem fazer nada. Isso gera tédio, uma inquietação muitas vezes intolerável. Por que será? Sentar, fechar os olhos, ficar observando nosso mundo apenas… Se fizéssemos isso com dedicação poderíamos ver quais fantasmas se repetem em nossos pensamentos e expectativas e medos. Percebendo os fantasmas eles deixam de nos assombrar. O que nos assombra é o que fica na escuridão.
Há outras forms de passar o tempo também. A busca pelo amor. Quase tudo se pode resumir como a busca por segurança. Segurança emocional, financeira… Mas o ego é por natureza insegurança. As pessoas que julgamos como de valor nessa sociedade são normalmente as que conseguiram certa segurança, principalmente financeira. Mas quem continua gravitando em torno do ego, do “eu quero, eu posso, eu preciso”, vive em insegurança. Ou seja, todos nós. Alguns conseguem disfarçar melhor. Podemos dizer que não, que admiramos outras pessoas que não as que conseguiram dinheiro. Mas o que fazemos com o nosso tempo diz mais sobre nós do que o que nós próprios dizemos que são nossos valores. E o que fazemos é procurar segurança ou nos distrair da insegurança. O ego é insegurança. É melhor aceitarmos isso e aprendermos a nos amar mesmo inseguros. Quais são nossos artifícios para nos sentirmos mais seguros? Eu cedo percebi que o conhecimento é um bom artifício, um bom esconderijo, de modo que me pus a ler muitos livros. Aos vinte anos eu tinha todas as explicações sobre o mundo. Era como se eu pensasse: “alguém pode ter dinheiro, mas eu tenho conhecimento”. É a mesma atitude, a mesma fuga da insegurança. Ainda continuo lendo livros, muitas vezes movido pela mesma insegurança, outras vezes apenas desfrutando…
Gosto da autenticidade dos seus textos. No sábado mesmo, fiquei em casa quase o dia todo. Ocupei-me com as tarefas domésticas e quando terminei, pensei: e agora? Resolvi que não arrumaria nada pra fazer, sentei em minha cama, olhei os gatos brincarem, escutei meu corpo, adormeci…nem faço idéia de quanto tempo passou. Não quis pensar no que faria nas próximas horas, nos próximos meses…
É um exercício que não exige esforço algum e faz um bem danado. Parece que as pessoas têm medo de ficarem sozinhas consigo mesmo.
Seria hipocrisia dizer que não penso em dinheiro. Só não faço dele um meio pra atingir a felicidade (pelo menos tento). Claro que ele proporciona certos prazeres, mas o que eu espero é poder levar minha vida anônima (!!!), sem excessos, sem preocupações mundanas.
Umas perguntas: é possível ter acesso a outros níveis de consciência através dos sonhos? Não só através de drogas ou experiências místicas? Podemos fazer isso meditando (“isolando” o ego)?
Quanto ao sexo, de fato, as pessoas estão “amarrando” mesmo. Conheço diversas mulheres, da mesma idade que eu que sonham casar, ter uma dúzia de filhos…é até assustador, pois minha vó pensava desse jeito. Qualquer forma “alternativa” de relacionamento é promiscua. Relacionamento aberto então, fora de cogitação. Pensar no “seu homem” transando por aí, com “qualquer uma”. Impossível de aceitar. Mas me parece mais racional saber que esse desejo é inerente ao ser humano (principalmente nos homens). Acho loucura lutar contra isso. E quanto a mim? Se um cara chegasse e disse isso: “quero transar com você. Você quer?” Desde que não seja o Boça, é de se pensar…hahaha
E a segurança? É uma luta diária. Assim como você buscou o conhecimento como um artifício (ou uma fuga) para se sentir mais seguro, eu busco o conhecimento de mim mesma…(virou filósofa kkkk). Não é nada fácil, mas eu não to com pressa nenhuma…
É, eu também penso em dinheiro, mais do que eu gostaria, rs.
Sim, outros níveis de consciência através dos sonhos, meditação, yoga. Com certeza. Quando acabamos uma prática de yoga, sentimos aquele bem estar, aquela harmonia no corpo e na mente, estamos em outro nível de consciência, que funciona para nós como experiências passageiras. Transformação seria essa consciência ser a nossa consciência corriqueira. Quanto mais vivenciamos esse tipo de consciência, maior a chance de irmos integrando essa experiência, ou irmos nos integrando nela cada vez mais.
Quanto à segurança, eu quis dizer que é preciso aceitarmos a insegurança. Insegurança da vida, do ego, das relações, em vez de ficarmos tentando nos assegurar demais. É preciso penetrarmos o vazio que nos amedronta, pois ele pode ser mais sereno do que imaginamos. Enquanto passamos a vida tentando obter segurança o tempo todo, perdemos a chance de vivenciar o que somos de fato.
acho q foi-se o tempo que o LSD proporcionava experiências interessantes em outros níveis de consciência. talvez qdo ele surgiu, assim como o ópio. mas atualmente não. não sei vc é usuário ou se já experimentou, mas pelo visto não, pq se já tivesse usado saberia que isso é uma utopia “das antigas”
engraçado q hj mesmo conversei sobre essa substituição dos desejos. um desejo alcançado logo se torna parte do cotidiano e deixa de cumprir seu papel de nos manter eufóricos, e logo já partimos para um novo desejo. estranho isso não? pensar que não conseguimos viver sem um propósito, sem um porque, sem um algo para corrermos atrás. estranho pensar q não conseguimos viver intensamente o presente, mas quase sempre projetamos mtas coisas pro futuro na esperança de q seja melhor, de que o sonho ou desejo se realize, seja ele qual for, pra nos dar um pouco mais de euforia.
LSD provoca mudanças na consciência. Tomado em circunstâncias específicas pode proporcionar auto-conhecimento. Isso não é utopia para mim. Se é para você tudo bem, cada um tem seus próprios horizontes.
O que eu quis dizer é que é estranho uma substância que pode ser benigna ser proibida e outras como o tabaco e o álcool não ser.
É, nosso cérebro funciona alimentado por novidades. Não há mal nenhum viver novidades inofensivas. Cada um deve saber dosar o nível de novidade e constância na própria vida. Dosar o que é necessário e o que é desnecessário. Procuro viver ao máximo o presente, o que muitas vezes sugere novas experiências e outras vezes não.
então… o q quis dizer com relação ao lsd é q acredito q atualmente o lsd q vemos “circulando” por aí não é puro como existia antigamente, tal qual cocaína e maconha, pois quem produz a droga ou quem comercializa altera ela para conseguir mais lucro e com isso ela perde suas características. Não acho que é questão da circunstância em q se usa o lsd e sim que “já não se fazem drogas como antigamente”, rs…
o lsd não é tão benigno assim não, pelo contrário. outro dia um amigo por pouco não pulou de uma altura de aproximadamente 3m por se achar capaz de fazer isso em função do efeito da droga.
É, eu sei que não é puro, mas provoca mudanças na consciência que ainda podem ser proveitosas. O efeito do LSD depende muito do contexto e intenção com que se toma a droga. Sob circunstâncias relativamente controladas é melhor, para evitar que alguém se machuque como podia ter acontecido com esse seu amigo. Há essa possibilidade mesmo, cada um deve se responsabilizar pela decisão de tomar a droga e tentar controlar a situação, se precavendo contra possíveis viagens perigosas.
Não digo que o LSD é benigno, apenas que pode provocar mudanças interessantes na consciência. Pode ser benigno ou maligno dependendo das circunstâncias e da pessoa que experimenta. Ele tende a potencializar o que já existe em cada um. Portanto, na minha opinião, cada um deve se conhecer um mínimo para julgar se tem ou não condições de fazer a viagem. Mas isso vale para todo tipo de droga e de experimentação não é mesmo?
Uma observação a resposta dada à Ana.
O Yôga proporciona a expansão contínua cumulativa da consciência. Conforme a evolução que se consegue na prática dessa filosofia (que não consiste apenas em meditar, pois na verdade meditar é apenas uma entre oito partes essenciais numa prática de Yôga) e a evolução da pessoa nos vários corpos (físico, emocional, mental…) a consciência se expande permanentemente e existe a chance de se chegar ao Samádhi, ao maior estado de consciência que se pode chegar na forma humana.